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Caro Quintero: o veterano megatraficante mexicano que nunca foi esquecido pelos EUA

Foto do momento em que Caro Quintero foi preso no México

Foto do momento em que Caro Quintero foi preso no México
EFE/Semar – 15/07/2022

Senhor da maconha nos anos 1980, Rafael Caro Quintero é um dos narcotraficantes históricos do México. Embora tenha pago com a prisão por parte dos crimes cometidos, ele sempre teve no seu encalço uma sombra: o assassinato do agente americano “Kiki” Camarena.

Com 69 anos, preso na sexta-feira (15) por militares mexicanos no estado de Sinaloa (noroeste), Caro Quintero era conhecido pela ostentação. Tinha um fraco por joias e roupas de grife. 

Também eram notórios sua habilidade para os negócios e o trânsito pelo submundo. 

Aos 14 anos, iniciou-se no cultivo da maconha em sua cidade natal, Badiraguato (Sinaloa), berço de outro grande traficante mexicano, Joaquín “El Chapo” Guzmán, condenado à prisão perpétua nos Estados Unidos. 

A prisão naquele país poderia também ser o destino final do chamado “Narco dos Narcos”, cuja extradição foi pedida pelo homicídio do agente da DEA (agência antidrogas americana) Enrique “Kiki” Camarena, em 1985. 

Assim como outros chefões do tráfico, Caro Quintero atribuiu à pobreza e à falta de oportunidades sua incursão na criminalidade. 

“Era uma pessoa muito jovem que morava aqui na serra, aqui é normal o plantio da maconha e da papoula [matéria-prima da heroína]. Era órfão, meu pai morreu, eu tinha 14 anos e tinha que dar comida a meus irmãos – assim tudo começou”, contou em 2016 à revista Proceso.

No fim dos anos 70, Caro Quintero aliou-se a Miguel Ángel Félix Gallardo (o “Chefe dos Chefes”) e Ernesto Fonseca Carrillo no que ficou conhecido como Cartel de Guadalajara, uma das primeiras organizações de narcotráfico do México.

O “Narco dos Narcos” chegou a ser, assim, o maior produtor e exportador de maconha do México, e sua fortuna foi calculada em cerca de 500 milhões de dólares.

Posteriormente, o Cartel de Guadalajara incluiu em seus negócios a cocaína, graças aos vínculos entre Miguel Ángel Félix Gallardo e o chefe do tráfico colombiano do Cartel de Medellín, Pablo Escobar.

Embora posasse de agricultor honesto, Caro Quintero, cuja vida foi retratada nas chamadas “narcosséries” televisivas, já estava na mira dos agentes americanos que seguiam o rastro de seus carregamentos e vínculos com as autoridades mexicanas. 

Caro Quintero, no período em que esteve preso

Caro Quintero, no período em que esteve preso
Joaquinronaldo/Wikimedia Commons

Entre 1982 e 1984, “Kiki” Camarena, agente americano de origem mexicana, infiltrou-se no Cartel de Guadalajara, o que resultou na apreensão e destruição de um cultivo de maconha de 2.500 acres (aproximadamente 1.011 hectares) do “Narco dos Narcos”, em uma fazenda conhecida como Rancho Búfalo, no estado de Chihuahua (norte).

Segundo as autoridades americanas, em seu desejo de vingança contra a DEA, Caro Quintero ordenou a tortura e a morte de Camarena, cujo corpo foi encontrado em uma vala em março de 1985, junto com o do piloto mexicano Alfredo Zavala.

O homicídio de Camarena abalou as relações entre os Estados Unidos e o México e radicalizou o combate às drogas. Como consequência, houve a queda do chefe do tráfico e a desintegração do Cartel de Guadalajara.  

Caro Quintero foi detido em abril de 1985, na Costa Rica, e condenado a 40 anos de prisão pelo duplo crime. Em agosto de 2013, foi libertado em razão de um tecnicismo legal.   

Após a soltura do traficante, o governo americano exigiu sua captura para fins de extradição sob as acusações de sequestro e assassinato de agente federal e posse e distribuição de cocaína e maconha, entre outros crimes. 

Foragido desde então, Caro Quintero também era acusado pela DEA de ter voltado às suas andanças. A agência oferecia até US$ 20 milhões por informações que levassem à sua captura. 

Trata-se do preço mais alto posto sobre a cabeça de um criminoso mexicano – supera o oferecido pela captura de chefes ativos do narcotráfico como Nemesio Oseguera, “El Mencho”, líder do Cartel Jalisco Nova Geração, cuja cabeça custa US$ 10 milhões.

A recaptura de Caro Quintero “foi o resultado de sangue, suor e lágrimas”, afirmou a diretora da DEA, Anne Milgram, destacando que se tratava de um alvo de altíssimo valor. 

“Era uma questão pessoal para nós. Se algum criminoso mata um agente nosso, então vamos perseguir um indivíduo como Caro Quintero por todo o mundo, até que seja capturado”, comentou neste sábado (16) à AFP Mike Vigil, ex-chefe de operações internacionais da DEA. 

Mas Caro Quintero nega ter participado do assassinato de Camarena. “Não o sequestrei, não o torturei e não o matei”, disse à revista Proceso, na clandestinidade, acrescentando que só queria viver em paz. 

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